No meio da sala tinha uma pedra; Tinha uma pedra no meio da sala.

E falando em adaptações…
Às vezes, qualquer coisa pode servir para diminuir meus desconfortos.

—<>—

Atualmente, estou relativamente bem de saúde, apesar das dores musculares (principalmente no quadril direito) e do cansaço físico, cada vez mais frequentes em determinadas situações.

Não é exagero afirmar que meu maior oponente hoje é o efeito da lei da gravidade sobre minha estrutura óssea e muscular. Seu maior impacto é sobre minha cabeça e meus ombros, como uma pressão exercida de cima para baixo. Isso acontece por causa do gradativo enfraquecimento dos músculos que sustentam a coluna vertebral, principalmente a cervical.

Meu maior desafio continua sendo meu próprio corpo, que se esforça para executar pequenas funções, como mastigar, deglutir e manter-se sentado. Atualmente eu não consigo mais ficar sentado sem a utilização do cinto. A vulnerabilidade física me causa, às vezes, a sensação de que estou caminhando por uma corda bamba sem nenhum tipo de proteção. Exemplo disso é conviver diariamente com o risco constante de engasgar com algum alimento ou a preocupação de adquirir uma pneumonia proveniente de um simples resfriado mal curado.

Mas, hoje, quero falar do meu quadril, já que as partes mais difíceis não merecem a negligência, certo?!

A deformidade na coluna e no quadril, em virtude da flacidez muscular, me obrigou a buscar alternativas para aliviar as dores e desconfortos. Principalmente em nosso querido país, onde os equipamentos e acessórios adequados para esse fim custam muito caro.

Minha mãe sempre usou a criatividade para melhorar minha postura. Inicialmente no sofá, durante minha infância e pré-adolescência, depois na cadeira de rodas, que comecei a utilizar ininterruptamente a partir dos 17 anos.

Toda vez que eu começava a apresentar alguma nova dificuldade para comer, escrever, desenhar, pintar ou simplesmente ficar sentado, lá ia dona Maria costurar uma nova almofada ou, na falta de tecidos, procurar algo que a substituísse, como toalhas grossas que, enroladas da maneira certa, quase sempre serviam.

Mas há a necessidade de usar materiais mais resistentes e rígidos como, por exemplo, placas de espuma, isopor e até pedaços de madeira em certas situações.

Eu nunca tive escaras, nem nos pontos de maior pressão. Isso se deve a dois importantes fatores:

. A atenção e os cuidados relacionados à minha saúde e à higiene efetuados por minha mãe e, atualmente, por minha esposa;

. Minha sensibilidade física é totalmente preservada e, portanto, eu sinto tudo, inclusive fortes incômodos quando fico muito tempo na mesma posição. Isso me possibilita mudar de posição frequentemente, com ajuda de alguém, aliviando as partes suscetíveis à abertura de feridas, quando pressionadas por muito tempo.

Quanto às dores, elas se concentram na região do quadril direito, em função de uma displasia causada pela doença neuromuscular, essa alteração prejudica a estabilidade das articulações devido ao mau encaixe do fêmur com a bacia. Para aliviá-las, é necessário pressionar o quadril para baixo e para dentro ao mesmo tempo. É um movimento complexo, que só minha amada esposa entende e sabe executar. Acontece que ela não pode ficar o tempo todo ao meu lado fazendo isso, não é?

Então, um dia desses eu estava à toa na sala, observando a convivência harmoniosa entre nossos móveis já ultrapassados e as bugigangas da Lavínia, que ficam “organizadas” em um dos cantos. Sobre a mesinha de bambu, vejo uma linda pedra ágata que ganhei do Leonardo, um ex-aluno meu. Sua única função era apenas decorativa. Aquela rocha bruta, vinda de um dos rios que banham a região central de Minas Gerais, de repente chamou minha atenção, mas não pela sua beleza e sim pelo seu formato anatômico que… Epa! Parece que eu havia tido uma ideia genial!

– Elis, por favor, pegue aquela pedra e a “encaixe” entre minha lombar e o encosto da cadeira, um pouco acima do quadril direito!

Indignada e sem entender o propósito, minha querida musa atendeu ao meu pedido, como sempre. Após ela ter colocado a bendita no ponto exato da dor, minha reação foi imediata:

– Issoooo, amor!! Aí, aí, exatamente aí!

Eu, com a pedra, que pesa 2,305kg, aferidos na balança do açougue do mercadinho em frente de casa.

Incrível! Alívio imediato! Era tudo o que eu precisava naquele momento! A dor no quadril realmente diminuiu 90%, porém, 30 minutos depois surgiu outra na região do rim. Diante disso, tive que pedir para Elis que removesse a pedra, o que ela fez prontamente.

Quem me vê de frente, sorrindo e conversando, não sabe que a responsável pelo meu bem estar pode ser uma pedra.

Pelo menos, agora eu posso escolher qual dor eu quero ter:

  1. No quadril: sem a pedra; ou
  2. No rim: com a pedra.

São as riquezas minerais do Brasil contribuindo para minha qualidade de vida!

Finalizo afirmando que, contraditoriamente, quanto mais frágil fico, mais forte me sinto!

E vida que segue…

Momento bobeira – Eu, equilibrando a bendita pedra na cabeça, sem um motivo qualquer. (Sim, eu sei; eu sou estranho.) Autora da foto: Vera Lúcia, uma amiga que fazia quase tudo o que eu pedia, até as coisas mais sem sentido, como essa… kkkkk
Pai de Rodinhas

A vida é da cor que a gente a pinta.

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