Pois é, este texto é sobre isso…
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Janeiro de 1976.
Seria uma tarde qualquer se não fosse minha ansiedade pelo retorno de meu pai. Seu Toninho tinha saído há horas e todos nós aguardávamos uma grande novidade que seria trazida por ele!
Me lembro que eu estava sentado no chão da sala, muito provavelmente brincando com alguma coisa que exigia mais cérebro do que músculos. Naquela época, eu era apenas um menino magrelo de 8 anos, feliz e sonhador. A única coisa que me diferenciava das outras crianças era o fato de não conseguir andar, devido uma fraqueza muscular que ninguém sabia a causa. Eu ainda não possuía cadeira de rodas, talvez porque ela anunciava a minha deficiência de forma explícita e, por isso, meus pais protelavam a iniciativa de adquirir uma, possivelmente em razão de suas dificuldades em lidar com a situação.
Minhas tias me “alfabetizaram” do jeito delas e, depois de muito esforço, aprendi a ler algumas palavras e escrever meu nome. Nos raros passeios que fazíamos, eu adorava ler as placas de rua e as capas de jornais e revistas expostas em frente às bancas… tentava, pelo menos. Isso era motivo de felicidade e orgulho para todos nós, principalmente para minha mãe. Mas, o que eu queria mesmo era ser matriculado em uma escola de verdade! Isso ainda não havia acontecido por causa de uma forte resistência dentro de casa, derivada dos excessos de cuidados que minha família tinha comigo. Compreensível, afinal, o Serginho era frágil, não andava e vivia doente.
Ah! Voltando naquela tarde…
Enquanto brincava, eu imaginava como seria a dinâmica e a rotina de uma escola, fazer novos amigos, conhecer os professores, enfim, como seria minha presença naquele admirável mundo novo! Felizmente, esse dia estava cada vez mais perto, pois meu pai já devia estar retornando com a notícia de que a matrícula no 1ª ano teria sido concretizada.
EBA! Meu velho chegou! OPS! Tem alguma coisa errada!? Para nossa surpresa, ele demonstrava muita raiva.
Em pé no meio da sala, gaguejando e engolindo seco, Seu Toninho começou a nos explicar o motivo daquele nervosismo todo, o qual era perfeitamente compreensível, visto que a direção da escola cancelou a matrícula após ele ter informado sobre minha principal característica: a deficiência física.
A justificativa para tal medida foi que a instituição não possuía as adequações necessárias para receber um aluno assim, tão “especial”, como eu. E tem mais! Por desconhecimento, mas com espírito solidário (prefiro pensar assim) e, talvez, na tentativa de amenizar a revolta do meu pai, uma das secretárias redigiu um encaminhamento para uma entidade que prestava serviços especializados em deficiência intelectual.
Decepcionado, tentando digerir todas aquelas informações e me esforçando para entender o que estava acontecendo, eu só conseguia sentir um nó na garganta. Até que o silêncio foi interrompido com o grito da minha mãe:
– Eles mandaram o Serginho para a APAE?!?!? Mas, por quê?!? Ele só não anda!!!
Naquele momento, ninguém tinha a resposta para esta pergunta. Hoje nós temos.
Bem… Após intermináveis dias de luta e contando com uma imprescindível rede de apoio voluntário composta por pessoas sensíveis à causa – incluindo profissionais da saúde e educação, bem como autoridades locais – meu pai finalmente conseguiu efetivar minha matrícula em uma escola pública estadual.
VITÓRIA!!
Comecei, então, a contagem regressiva para o primeiro dia de aula, que demorou uma eternidade para chegar!
Superadas as barreiras humanas, estávamos prontos para enfrentar as barreiras arquitetônicas, as quais estiveram presentes ao longo do tempo, tanto nas dependências da escola como no trajeto de ida e volta, principalmente durante o primeiro ano, visto que minha mãe me levava diariamente, conduzindo a cadeira de rodas.
Mas esta é outra história…
…
– Momento Descontração –
A pergunta que fica é: Por que eu estava de cabeça baixa na foto?
[Assinale a alternativa correta]
RESGATAR, INCLUIR E SALVAR “A inclusão, transformação e cura por meio da arte era a…
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