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Eu e Elis nos casamos em Setembro de 2007, na Catedral Nossa Senhora do Amparo, 6 anos após nosso encontro virtual, num chat de São Paulo. Casamentos são todos iguais, exceto quando há uma rampa dentro da igreja, para que o noivo possa chegar até o altar.
Durante os seis primeiros meses de feliz união, conversamos muito sobre ter ou não ter filhos. Vários fatores foram colocados na balança, e nossa idade constava nessa lista, visto que eu estava com 41 e ela com 36 primaveras completadas.
Outro assunto que refletimos, expressado inclusive por nossos familiares, estava relacionado à minha condição física, e tinha a ver com a disposição de minha esposa para cuidar de mim e do bebê, uma vez que sou 100% dependente de alguém nas rotinas diárias – embora pudéssemos contar com a ajuda da Mãe Maria em eventuais necessidades.
É claro que analisamos também nossa condição material, o qual nos levou a alguns questionamentos a respeito de uma suposta conjuntura financeira ideal, ou pelo menos satisfatória, para se ter um filho, biológico ou adotivo. Como por exemplo: Quais os parâmetros que devemos usar para definir uma condição estável e satisfatória? Possuir um imóvel quitado e decorado? Um carro zero Km na garagem? Uma graduação (ou pós-graduação) concluída e um emprego seguro, com um ótimo salário?
Após uma profunda avaliação, na qual ponderamos os prós e os contras, decidimos ser pai e mãe, entretanto, não foi tão fácil assim, pois não bastava tomarmos uma decisão. Não demorou para percebermos que aquela escolha era apenas o início de uma jornada intensa e inesquecível.
Cabe esclarecer, sem maiores detalhes, que nossa vida sexual é “normal”, contrariando os estereótipos e crenças relacionadas às pessoas com deficiência. Porém, infelizmente, as tentativas naturais não foram bem-sucedidas, fazendo com que eu realizasse um exame conhecido como Espermograma. O resultado foi muito desanimador e a explicação do médico amparense foi mais ainda! O fato de viver sentado, ou seja, de ser cadeirante desde sempre, me tornou estéril… ou quase.
Não satisfeitos com a fala pessimista do doutor e inconformados com a aparente falta de perspectiva de, um dia, nos tornarmos pais biológicos – e ao mesmo tempo, já pensando na possibilidade de adoção -, procuramos informações na capital paulista, sendo mais exato, na AACD I (unidade do Ibirapuera) na tentativa de iniciarmos um possível tratamento de fertilidade. O Neurologista, que já me acompanhava há alguns anos, nos motivou a prosseguirmos na busca da concretização desse desejo e, prontamente, nos passou orientações preciosíssimas. Saímos de seu consultório com dois importantes encaminhamentos: para o Projeto Genoma (USP) e, depois, ao Centro de Reprodução Humana do Hospital São Paulo (UNIFESP).
No primeiro local, nós dois fizemos exame genético, a fim de obtermos respostas concretas acerca da Amiotrofia. Em relação a uma eventual herança genética, nós tínhamos conhecimento que os genes da maioria das doenças neuromusculares são recessivos, portanto, não determinantes para a manifestação delas. Os resultados foram os melhores possíveis! Elis não possui os genes responsáveis pela causa da AME e, por isso, nosso filho ou filha não apresentaria a patologia.
Superada a primeira barreira, procuramos, motivados, o setor especializado do referido hospital, para darmos início a um tratamento de fertilidade.
Novas e minuciosas avaliações nos mostraram que havia uma perspectiva de obtermos êxito, porém, somente através de uma intervenção cirúrgica em mim. Explico: meu lindo espermatozóide seria coletado diretamente da fonte (Aaaaaiiiiii!). Tendo em vista que essa era a única chance para realizarmos nosso maior sonho, aceitei a proposta e entramos de corpo e alma naquela oportunidade que o universo estava nos oferecendo.
Depois de muita ansiedade e diversos perrengues, principalmente ligados às viagens para Sampa, num belo dia, chegou o feliz veredicto: ESTAMOS GRÁVIDOS!!!
Segunda-feira, 29 de março de 2010: O dia em que a terra parou… pra mim! Às 10 horas da manhã, minha filha aterrissou suavemente neste louco e espetacular planeta, chamado Terra. Nesse instante, um novo sol brilhou no meu peito, preenchendo a tela da minha história com cores vibrantes! Como num passe de mágica, o filho “especial” do ‘seu’ Antonio e da ‘dona’ Maria se tornou o pai de rodinhas da Lavínia.
Por um período de tempo, tentei classificar e entender aquele novo sentimento que tomava conta de mim, que era diferente de tudo o que eu já havia experimentado.
Passados vários dias após seu nascimento, a ideia de ser pai começou a ser cristalizada, assim como fui compreendendo, com mais clareza, a dimensão dessa nova responsabilidade. Muitas coisas mudaram em meu íntimo, entre elas, uma inédita compreensão sobre a existência humana e o entendimento real sobre esse tal amor incondicional, sem falar dos valores que passaram a me nortear a partir dali. Do mesmo modo, adotei um novo significado para a palavra FELICIDADE. Enfim… “Renascimento” talvez seja a expressão que melhor define essa transformação… ou metamorfose.
A maternidade/paternidade é um ato nobre, que nos enriquece espiritualmente e nos transforma em pessoas melhores. Eu acredito nisso! Os privilégios inerentes a esta experiência, se encarados com responsabilidade, é uma das vivências mais gratificantes da vida e pode nos oferecer uma oportunidade de crescimento emocional.
OBS: Os detalhes dessa incrível viagem em busca do nosso tão sonhado tesouro, incluindo os percalços e episódios inusitados, estão no livro (aqui). O artigo “À ESPERA DE UM MILAGRE” (aqui) também contém alguns pormenores e reflexões a respeito desta maravilhosa jornada.
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