UM CHAMADO SILENCIOSO

A BUSCA PELO AFETO DO PAI E DA MÃE

Todas as crianças buscam por afeto e atenção, inclusive nos momentos de birra. E as crianças com deficiência, por saberem que em algum momento causaram tristeza aos seus pais, inconscientemente procuram fazer de tudo para serem acolhidas e amadas.

A foto abaixo retrata a minha primeira comunhão, aos 9 anos, mas o texto é sobre a minha busca por afeto, atenção e reconhecimento dos meus pais, exatamente na mesma época.

Olhando para o meu passado, percebo que sempre procurei ser o melhor e fazer tudo perfeito, só para agradar o seu Antônio e a dona Maria. Obter reconhecimento e aceitação também era meu objetivo. Só depois de ter ultrapassado meio século de vida, entendi que isso acontecia devido a minha deficiência.

Quando criança e adolescente, eu achava que ser inteligente e obter os melhores resultados era uma espécie de equilíbrio ou compensação. E por que isso? Porque eu buscava, exaustivamente, o reconhecimento do meu pai e da minha mãe. Eu queria que eles ficassem orgulhosos de mim, principalmente do meu desempenho escolar. Sim, existiam cobranças quanto às notas, principalmente do meu pai. Inclusive, eu pedia desculpas quando não conseguia atender suas expectativas.

Na minha cabeça, eu precisava compensá-los de algum modo, visto que, no aspecto da saúde, nunca fui o filho que idealizaram. Eu não conseguia evitar um pensamento e, consequente, um sentimento: “Minha condição física trouxe tristeza para eles, portanto, preciso trazer felicidade através de minhas habilidades intelectuais”. O esforço empenhado para cumprir aquela “obrigação” foi gigantesco! Eu vivia cansado mentalmente e não sabia o motivo.

Ah! Mostrar que eu era forte emocionalmente também se configurava como uma necessidade constante. Chorar na frente deles, jamais.

Os medos sempre foram muito presentes: o medo de ser comparado com alguém, o medo de não ser amado, o medo de não agradar, o medo de não ser cuidado. E falando em cuidados, havia uma outra questão: Eu sempre precisei de cuidados 24 horas por dia, e, por isso, achava que devia gratidão eterna a todos que cuidavam de mim, especialmente à minha mãe. Eu queria lhe dar algo em troca e, novamente, me esforçava para ser o melhor e fazer o melhor. E, de novo, ficava cansado e triste quando falhava.

Nesse maldito círculo infindável, eu me distanciava cada vez mais da minha essência, chegando a pensar que meus genitores gostavam de mim somente pela minha performance. Por exemplo, “meu filho é o melhor aluno da sala”, “meu filho venceu a eleição para vereador”, “meu filho é artista plástico e palestrante”, “meu filho escreveu um livro”… e por aí vai. (Uma percepção distorcida a respeito do amor dos meus pais por mim, que quase me levou a uma crise existencial.)

Hoje, termino esse texto me questionando:

Será que eu ainda faço isso?

Afinal, já me disseram que “os leoninos são assim mesmo; vivem buscando a perfeição e adoram ser adorados.”

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Meu pai Antônio, eu e minha mãe Maria



A vida é da cor que a gente a pinta.