Fazer o quê, né?! Eu sou assim!

Sempre adorei viver e brincar perigosamente!

Ainda bem que eu sempre estive sob a proteção de nossa santinha padroeira!

Não sei exatamente o ano que aconteceu esse meu sufoco, só sei que foi na década de setenta e eu morava na Fazenda Bocaina, ainda no extremo bairro rural do Pantaleão.

As visitas mensais dos meus primos de Pedreira fazem parte do “Top Five” das minhas melhores recordações de infância. Quando eu ouvia o motor do Mercedes Benz se aproximando, meu coração palpitava de alegria, pois eu sabia que a diversão estava garantida por algumas horas. Era uma oportunidade quase única para poder brincar livre, leve e solto no terrenão em frente à minha casa, visto que meus pais dificilmente me deixavam brincar com as poucas crianças que moravam na fazenda, certamente por excesso de cuidado e preocupação com o filhinho “especial”.

O caminhão do meu tio era um verdadeiro parque de diversões, não só para mim como também para a criançada das redondezas, que vinham correndo quando o possante chegava. Nossas brincadeiras geralmente aconteciam ao redor dele e, embora raramente a gente pudesse entrar na cabine, quando isso acontecia eu vibrava de felicidade! Certa vez alguém nos colocou em cima da carroceria e, claro, esse dia foi inesquecível!

Outro momento marcante e aterrorizante foi quando disputamos uma corrida debaixo desse mesmo caminhão. Não me lembro do número exato de participantes, creio que foram cerca de oito crianças, incluindo meus primos e o relator desta historinha que, apesar da limitação física, teimou em participar mesmo sabendo que não tinha a mínima chance de ser o vencedor.

Após a largada pela frente do truck, a criançada saiu em disparada rumo ao ponto de chegada que ficava na traseira. A idade dos corredores variava entre quatro e sete anos e todos, exceto eu, engatinharam num ritmo frenético, em busca de um troféu que ninguém sabia o que era.

Eu me locomovia de um jeito peculiar, sentado e arrastando minha bunda para lá e para cá. Num gingado próprio e quase sedutor, eu “jogava” o quadril esquerdo e depois o quadril direito, e assim sucessivamente.

Minha cabeça passava raspando nas peças que ficavam no fundo do caminhão e logo no início do percurso já surgiu o primeiro obstáculo: o eixo dianteiro. Assustado, mas feliz da vida por estar incluído junto e misturado com a molecada, parei diante dele e pensei:

– Putz!! E agora?

Após uma breve pausa e alguns cálculos, concluí que valia a pena arriscar e resolvi então continuar. Respirei fundo e com serenidade e muita concentração me abaixei lentamente e… YEESSSSSS! Passei!

Eu já havia saído por último e naquela altura me distanciei mais ainda dos meus concorrentes. Mas e daí? Segui em frente determinado a cumprir minha missão, que era finalizar a corrida.

Na metade do trajeto eu perdi a noção do tempo e parecia que eu estava ali há horas:

Caramba! Por fora esse caminhão não é tão comprido! Não acaba nunca! EPA! O que é aquilo? Outro obstáculo?

Lógico! Eu ainda não tinha passado pelos dois eixos traseiros.

– Putz 2!!

Confiante e motivado pela superação do primeiro obstáculo, segui adiante na certeza de que conseguiria também passar por eles.

Porém, meu cansaço físico seria um complicador dessa vez. E foi exatamente por causa dele que, ao me abaixar, me desequilibrei, caí para o lado e não consegui mais retornar à posição anterior.

Naquele momento só me restou gritar, rezar, gritar de novo e rezar outra vez. Só que ninguém ouvia meu pedido de socorro, pois minha família estava dentro de casa e os amiguinhos que haviam concluído o percurso estavam longe, provavelmente brincando de outra coisa.

Inevitavelmente, os pensamentos negativos começaram a invadir minha mente. Sozinho e deitado no chão de terra batido eu só imaginava o pior, meu tio ligando o motor, saindo devagarzinho e esmagando seu sobrinho, de forma lenta e dolorosa.

Depois do terror veio a raiva:

– Nãããããããããooo!! Ninguém sentiu falta de mim!?!

De repente, senti duas mãos tocando meus pés e me puxando para fora. Antes mesmo de reconhecer o rosto do meu salvador e agradecê-lo, ouvi sua voz:

– O que ocê tá fazendo aí embaixo do caminhão, Sérgio! Ocê sabe que não consegue brincar que nem as outras crianças e mesmo assim vai, né?!? Tá loco, viu! Ocê me apronta cada uma!

Pelas doces palavras, adivinha quem era?

Não. Dessa vez não era meu anjo da guarda. Era meu pai!

………………………………….

Moral da história:

  • Versão politicamente correta: “Na vida, não importa se lascar. O mais importante é se lascar tentando!”
  • Versão baixaria: “Na vida, não importa sifu O mais importante é sifu tentando!”

Pai de Rodinhas

A vida é da cor que a gente a pinta.

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